sexta-feira, 7 de maio de 2010

Grêmio 1995 X Santos 2010 - por Lucas Silveira

O Santos de 2010 é a grande sensação do futebol brasileiro nesse 1º semestre. Empilhando goleadas de 8, 9 e até 10 gols, os Meninos da Vila estão na boca da mídia e do povo. Realmente jogam muito. Estão prestes a faturar o Campeonato Paulista, mas a verdade é que ainda não ganharam nada. São apenas uma sensação. Que tem tudo pra virar confirmação.
Como seria o duelo desse Santos, que parece ser o melhor dos últimos anos, contra um time comprovadamente vencedor? Um time que não é sensação e não é promissor: um time de fato campeão. Uma afirmação. Um amigo, leitor do Blog, esses tempos me deu essa idéia: como seria reproduzir um duelo entre esse Santos 2010 x Grêmio 1995? Obviamente nunca saberemos a resposta exata. Um intervalo de 15 anos impossibilita o duelo. Mas vou tentar construir essa crônica, com um pouco de imaginação, e com pitadas desse meu gremismo que viu o time de Scolari encantar o Brasil, a América, e apesar de Tóquio, o mundo também. Lá vai:
Os mais de 50mil torcedores que lotaram o Estádio Olímpico Monumental ontem viram um jogaço. Digno de Libertadores. Era só o jogo de ida das Semi-Finais, mas parecia a Grande Final.
O time da casa atuou durante os 90min com: Danrlei; Arce, Rivarola, Adílson (Luciano) e Roger; Dinho, Luís Carlos Goiano, Arilson e Carlos Miguel; Paulo Nunes (Alexandre) e Jardel (Nildo). Técnico: Luiz Felipe Scolari.

Os visitantes colocaram em campo: Felipe; Pará (Madson), Edu Dracena, Durval e Léo; Wesley, Arouca, Marquinhos e Paulo Henrique Ganso (Zé Eduardo); Neymar (André) e Robinho. Técnico: Dorival Júnior.
Antes de começar a partida, um contraste já é notório: as chuteiras. Os Meninos da Vila desfilam com belos e ousados modelos roxos, lilás, amarelos e mais uma infinidade de cores e estilos. Durval é o único que usa uma preta, e é motivo de piada entre o grupo. Robinho e Neymar sempre puxam seu calção nos vestiários por causa disso. No lado Tricolor, todos com chuteiras pretas. Paulo Nunes cogitou colocar uma branca nesse jogo, mas Dinho não deixou. Na verdade ele apenas comentou que não era boa idéia, mas sugestão do Dinho é ordem. Felipão ficou sabendo e deu razão ao cangaceiro dos pampas. O comandante gremista olhou pro diabo loiro e disse: tu não te fresqueia, guri. Recado dado.
Durante o aquecimento, o simpático e malemolente Neymar se aproxima de Rivarola sorridente e pergunta: que legal, to vendo que você está com uma chuteira maior que a outra. É a nova moda? Riva, com a cara fechada, sem olhar pro moleque, responde num bom portuñol: “não. Estoy com una unha encrabada”. Neymar dá uma bela risada, achando que era piada. Ao ver que o gringo não riu, calou-se e fugiu pra perto de seus amigos.
Começa a partida, saída para o Santos. Olímpico desaba em vaias. O experiente Robinho se assusta e se livra da bola, toca pra trás. O alvinegro praiano toca uns 3 ou 4 passes assustado e se atrapalha: lateral para o Grêmio. Olímpico vai abaixo, vibração total. Lá pelos 25min a garotada santista já está mais tranquila e começa a jogar. Ganso dá lançamento espetacular para Robinho, que pedala na frente de Rivarola e só não morre porque é rápido: escapa da tesoura do paraguaio e toca para Neymar, que dribla Adilson e chuta no canto de Danrlei. Indefensável. Grêmio 0, Santos 1.
Felipão vira bicho. Xinga até a nona geração do time todo. Se revolta com Rivarola por não ter matado o pequeno Robson. O time do Grêmio se possui. Dinho coloca em prática sua máxima: “por mim só passa o jogador ou a bola, os dois juntos não ”. Até o leve e saltitante Paulo Nunes vira um monstro, contagiado pelo resto da equipe ele bufa e dá carrinhos. O Olímpico vibra a cada chutão, a cada falta dura e demais lances de certa truculência.
Mas com a bola nos pés esses caras também têm bala na agulha, meu amigo. Arce dispara na direita, passa pela marcação, cruza com uma perfeição poucas vezes vistas no esporte bretão e, Jardel, cuja absurda impulsão faz com que consiga colocar a cabeça acima da altura das mãos de muitos goleiros, pula com maestria e confere um testaço em direção ao chão, fazendo a bola quicar pouco antes da linha e morrer no fundo das redes. Explosão geral de euforia na Azenha: 1x1.
O Santos se desconcentra. Carlos Miguel faz boa jogada, toca pra Arilson, que dá uma janelinha em Arouca, devolve pra Miguel, que encontra Paulo Nunes bem colocado. O diabo loiro invade a área, corta pra direita e é derrubado por Edu Dracena. Pênalti. Dinho dispara uma bomba no ângulo esquerdo de Felipe. Inapelável. Grêmio 2, Santos 1. O Santos acorda, os Meninos da Vila voltam a jogar bem. Felipão surta com o time. Fim do 1º tempo.
O gol do Santos parece iminente na 2ª etapa. O Grêmio se retrai demais. Os guris da Vila têm muita habilidade. E jogam pra cima. Dessa vez é Neymar quem pedala pra cima de Rivarola. Dessa vez Riva não perdoou: coice. Neymar chora rolando no chão. Jogadores do Santos cercam o juiz, que é uruguaio e não muito tolerante. Não é tolerante com frescuras: só amarelo pra Rivarola. Neymar lesionado, entra André no seu lugar. Danrlei aproveita a discussão pra chamar Robinho num canto e dizer, com o dedo em riste, que se eles continuarem fazendo gracinhas, alguém ia quebrar a perna ali hoje. Robinho vai relatar ao árbitro a ameaça que recebeu e o juizão o ignora, mandando ele parar de chorar e jogar bola.
Dinho fica um pouco frustrado com a saída prematura de Neymar. Ele tinha prometido durante a semana para uns 37 torcedores que iria quebrá-lo. Riva foi mais rápido. Tudo bem, bola pra frente.
Ganso faz boa tabela com André, que devolve pra Ganso, que tenta driblar Goiano e... TUM! “Pega o que te mandaram”. Luis Carlos Goiano dá no meio do guri-marreco. Ganso lesionado. Mais um teatrinho do elenco santista pressionando a arbitragem. Amarelo para Goiano. Zé Eduardo entra no lugar do lesionado. O Dinho bem que avisava: “o Goiano é bandido também, dá tanto pau quanto eu. A diferença é que ele é educado, atleta de Cristo. Ele pede desculpas, eu bato e saio sem nem olhar pro cara”.
A equipe santista perde duas das suas principais peças, mas segue perigosa. O Grêmio, entretanto, equilibra mais a partida. Aos 35 do 2º tempo, Adilson, exausto de tanto desarmar guri novo, sai aplaudidíssimo por sua quase perfeita atuação. Luciano entra. Aos 41min é Paulo Nunes quem cruza, Jardel voa e destroça a bola com a testa, ela explode no travessão, volta para a entrada da área, Carlos Miguel vem correndo de trás e dá um bico na gorduchinha, que vai morrer no fundo das redes de Felipe: 3x1, festa total. Pra ganhar tempo, Felipão tira os também cansados Jardel e Paulo Nunes, e coloca Nildo e Alexandre Xoxó (Alexandre Gaúcho).
Nos minutos finais o Santos ensaia uma pressãozinha, pra tentar reduzir os prejuízos e facilitar sua vida no jogo de volta, na Vila Belmiro. Já estávamos com 46min (faltando mais 3 para o término do jogo, já que ele deu 4 de acréscimos) quando Robinho escapa bem pela direita, dribla dois, e aí comete um ledo engano: pedala na frente do Dinho. Se driblasse o Dinho, sairia na cara do Danrlei, gol quase certo. Mas era o Dinho. Faça o que tu quiseres na frente do Dinho, só não saçarica. Robinho toma uma entrada que chegou a arrancar um “ooooh” do estádio inteiro. Um “ooooh” seguido de comemoração. Essa nem o juizão cisplatino engoliu: Dinho na rua. Aplaudido de pé. Evitou uma chance clara de gol e deixou o garoto Robson rolando no chão. Danrlei foi até ele e disse: “eu avisei”. E avisou mesmo: Robinho fratura a perna.
Roger ergue os braços chamando a torcida. Olímpico pulsa. Grêmio segura o Santos nos minutinhos finais. Eram 10 contra 10 (Santos já tinha feito 3 substituições). Mais espaços no campo favoreciam a molecada ligeira da Vila. Mas a torcida do Grêmio preencheu esses espaços com urros e cânticos de guerra. Tudo sob controle. Fim de jogo. Grêmio 3, Santos 1.
Jogo de volta na semana que vem com ausências confirmadas de Neymar (S), Ganso (S) e Robinho (S), lesionados; e Dinho (G), suspenso. Tudo pode acontecer. Mas eu apostaria no Grêmio para conquistar essa vaga à Final. Felipão certamente irá armar bem sua equipe para se fechar em Santos, e contará com boas e perigosas alternativas ofensivas. Os santistas têm desfalques importantes. É esperar e ver. Será sem dúvida um jogão.

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